Na carta ao presidente, 14 governadores citam a chegada e rápida disseminação, já no estágio de transmissão comunitária, da nova variante P1 do coronavírus, que tem se revelado ainda mais letal
Em carta ao presidente da República, 14 governadores afirmam que a vacina representa a esperança da população e nenhum governante pode correr o risco de não esgotar todas as possibilidades ou de procrastinar ações e procedimentos. “Cada minuto, cada hora e cada dia são preciosos e decisivos, e constituem a triste diferença entre viver ou morrer”, pontuam. Prefeitos advertem que havendo vácuo da União, podem utilizar-se dos 305 consórcios públicos que já atuam na área de saúde e que abrangem 3.612 Municípios brasileiros
Em uma semana em que o país vê a disparada do número de mortes causadas pelo coronavírus, governadores e prefeitos se mobilizaram e conseguiram, ao que parece, fazer o Governo federal se mexer, efetivamente, na busca de vacinas contra a Covid-19. Mesmo com a falta de imunizantes no mercado internacional, devido à grande procura, o Brasil deve agir com maior rapidez e utilizar todos os canais diplomáticos, econômicos e políticos possíveis para conseguir um aporte maior de vacinas. A situação esta semana chegou a um ponto dramático com ameaça real de colapso do sistema de saúde na maioria dos estados.
Após ensaiar uma busca por conta própria de vacinas no mercado internacional, os prefeitos de cidades de médio e pequeno porte de todo o país, reunidos na Confederação Nacional de Municípios (CNM) e entidades estaduais de municípios, como a Associação Goiana de Municípios, divulgaram nota defendendo o fortalecimento do federalismo brasileiro e pedindo urgência na vacinação em massa da população por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI).
“Esse é um momento em que a soma de esforços representa o único caminho para o enfrentamento da crise sanitária, política e econômica que a nação brasileira enfrenta e cujo agravamento encaminha o esgarçamento do tecido institucional, político e social”, diz a nota da CNM.
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Após reunião com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a entidade municipalista afirma que a compra e a distribuição de todas as vacinas devem ser feitas pela União a fim de que se tenha igualdade entre todos os brasileiros.
“Não se pode aceitar o enfraquecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). É fundamental fortalecer o pacto federativo e a equidade no tratamento dos cidadãos brasileiros, especialmente em um momento como esse em que os mais vulneráveis já sofrem drasticamente os efeitos sanitários, sociais e econômicos da pandemia”, destaca.
A entidade diz ainda que vem monitorando a produção mundial de vacinas e da atuação da União via PNI, cobrando do governo federal a compra e a distribuição célere das 350 milhões de doses anunciadas pelo Ministério da Saúde em reunião com as lideranças municipalistas no dia 3 de março. Mas adverte que havendo vácuo da União e falha do PNI, os municípios podem utilizar-se dos 305 consórcios públicos que já atuam na área de saúde e que abrangem 3.612 Municípios brasileiros.
“Caso persista a indefinição em relação ao cumprimento do calendário de distribuição pelo governo federal, o movimento municipalista defende que haja uma concertação nacional temporária dos Estados e seus respectivos Municípios para a aquisição suplementar das vacinas, respeitando-se o princípio constitucional de igualdade entre os brasileiros”, pontua.
Por fim, a CNM pede esforço conjunto e a despolitização da pandemia e que todas as autoridades, “na sua ação pessoal, sirvam de exemplo, respeitem o distanciamento social, usem máscara e liderem com empatia e sentimento humanitário as suas populações”.
“Os gestores municipais reafirmam a sua responsabilidade no enfrentamento da pandemia e apelam para a urgente vacinação em massa da população para evitar o agravamento da tragédia nacional sem precedentes e um irreparável conflito federativo”, finaliza o documento.
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“Cada minuto constitui a triste diferença entre viver ou morrer”
Já na carta endereçada ao presidente da República, os 14 governadores dos estados de Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe pedem a Bolsonaro imediata adoção das providências necessárias a fim de viabilizar a obtenção de novas doses de imunizantes contra a Covid19, “de modo a auxiliar no controle do aumento exponencial dos casos de infecção e do número de óbitos pelo coronavírus, conforme observado nos últimos dias em todo o território nacional”.
Os governadores argumentam que têm envidado todos os seus esforços, mas estão no limite de suas forças e possibilidades. E que as ações demonstram estar próximo do exaurimento. “Ninguém discorda de que, nas próximas semanas, talvez meses, a pandemia seguirá ceifando vidas, ameaçando, desafiando e entristecendo todos nós”, diz a carta.
E apelam para a vacinação em massa, com a maior brevidade possível, como provavelmente a única alternativa capaz de deter a pandemia, “permitindo que o Brasil, seus Estados e Municípios, aos poucos, possa retornar à normalidade, com as devidas medidas sanitárias e econômicas”.
E apelam para que o Governo federal agilize mecanismos de compra, por todos os meios de aquisição disponíveis, para vacinar, no menor espaço de tempo possível, a maior quantidade de brasileiros.
“Se não tivermos pressa, o futuro não nos julgará com benevolência”, advertem.
Os governadores pedem maior esforço especialmente dos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, para obter, em curto prazo, número consideravelmente superior de doses.
“Caso seja possível, sugerimos também o requerimento de apoio e intermediação da Organização Mundial da Saúde”, sugerem.
Os 14 governadores citam a chegada e rápida disseminação, já no estágio de transmissão comunitária, da nova variante P1 do coronavírus, que tem se revelado ainda mais letal.
“O mundo acompanha com preocupação o rápido avanço do contágio por essa variante no Brasil, o que torna o bloqueio da disseminação desse tipo de vírus matéria de interesse de diversas nações, inclusive porque outras variantes podem dela advir”, dizem.
Citam que o Brasil está muito abaixo no índice de vacinação e que o imunizante hoje representa a própria esperança da população.
“Cada minuto, cada hora e cada dia são preciosos e decisivos, e constituem a triste diferença entre viver ou morrer”.
A mobilização de governadores e prefeitos demonstra um cansaço com o negacionismo por parte do Palácio do Planalto. Por mais que tenha liberdade para expor suas ideias – e o presidente Jair Bolsonaro faz questão de demarcar que é contra o distanciamento social e parece estar se lixando para as milhares de vidas perdidas diariamente –, o presidente da República é a figura que representa a unidade nacional. E, lamentavelmente, a população brasileira não pode contar com o mínimo de empatia da parte dele e, pior, ele não demonstra o menor esforço pessoal para conseguir acelerar o processo de vacinação do povo brasileiro.
Em um primeiro momento, a pressão parece estar dando resultado, com a divulgação de informações de que o Ministério da Saúde fechou contrato com farmacêuticas Pfizer e Janssen, além da Moderna. Não basta comprar vacinas, a situação é gravíssima e precisamos aplicar as doses na população brasileira o mais rápido possível.