Foto – Ilustração Covid-19 – Corona-Borealis-studio
O paciente que morreu atuava em um hospital de urgência de Aracaju-SE e teve seu primeiro teste positivo em maio de 2020
Um farmacêutico sergipano de 44 anos se tornou o primeiro caso documentado de morte por uma recorrência de covid-19 . Ainda não se sabe se trata-se de uma reinfecção ou de uma recidiva (quando o vírus de uma mesma infecção volta a atacar o corpo). O estudo que confirmou o óbito foi publicado por pesquisadores na última sexta-feira, 12/02, no Journal of Infection.
O estudo ainda traz o relato de 32 casos de recorrência da doença entre pacientes que atuam como profissionais de saúde no estado, incluindo um caso comprovado de reinfecção por linhagens diferentes no Brasil, ocorrido em julho de 2020, que teria sido o primeiro do país. Oficialmente, o primeiro caso registrado até então pelo Ministério da Saúde de reinfecção ocorreu em 23 outubro de 2020 em uma médica do Rio Grande do Norte.
A publicação é assinada por pesquisadores da UFS (Universidade Federal de Sergipe) em parceria com outras oito instituições.
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Recorrência
“É um resultado importante porque o vírus está associado à morte numa recorrência. No primeiro episódio foi um caso bem leve. Ele voltar a apresentar sintomas da doença nesse intervalo já é algo incomum, e com o desfecho morte é inédito” pontuou o Dr° Roque Pacheco de Almeida, chefe do Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular do Hospital Universitário de Sergipe.
O paciente que morreu teve o primeiro teste RT-PCR (considerado o padrão ouro de testagem) positivo feito no dia 8 de maio de 2020. Após nove dias de sintomas leves, ele voltou às suas funções normais. Não houve necessidade de internação. Exatos um mês depois, ele voltou a apresentar os sintomas de covid-19, e no dia 13 de junho, ele fez outro teste RT-PCR, que deu positivo. Dessa vez, porém, a doença se apresentou de forma grave: ele foi internado e morreu no dia 2 de julho de 2020.
A morte do farmacêutico chamou a atenção por fugir à regra do que é visto do comportamento da doença. “Pelo que conhecemos do vírus, quando há morte de covid-19 é no primeiro episódio, nunca no segundo “, afirma Dr° Roque. Casos de recidivas de covid-19, com apresentação de sintomas após o período inicial, são raros, mas já foram descritos pela ciência em vários locais. “Foi em Hong Kong-China, que tivemos o primeiro caso documentado, mas esse aqui, em Sergipe, foi antes, apenas não havíamos publicado. E o paciente lá não morreu”, concluiu.
Mutação letal
Um dos pontos que chamou a atenção dos pesquisadores foi que o sequenciamento genômico apontou para uma mutação do vírus ligada a mortes de pessoas com covid-19 que já havia sido descrita internacionalmente. Trata-se da G25088T.
“Essa mutação tem um potencial letal muito grande, já era conhecida e descrita”. Para ele, é provável que essa mutação tenha desaparecido, já que ela está associada a mais mortes do hospedeiro. Isso ocorre porque, em regra, os vírus tendem a se tornar mais transmissíveis, mas menos letais por causa do processo evolutivo deles. Disse.
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Reinfecção em período curto
O mesmo estudo publicado no Journal of Infection, pesquisou outros pacientes e descreveu 33 casos de pacientes que tiveram recorrência da doença. Dos casos analisados, um chama a atenção porque se tratou comprovadamente de infecções por linhagens diferentes do vírus em um curto espaço, 54 dias entre maio e julho de 2020. “Essa foi uma reinfecção comprovada. A pessoa pegou a doença, teve o PCR negativo depois e estava em atividades normais”, disse Dr° Roque.
As amostras analisadas foram coletadas entre maio e julho de 2020. No caso do estudo, 93% são profissionais de saúde que tiveram a recorrência.