Publicado por: Marcelo José de Sá Diretor-Presidente e Editor-Geral do Site do Jornal Espaço
Publicação reforça que qualquer quantidade de atividade física já pode trazer resultados positivos
Conceito mais abrangente de atividade física inclui qualquer movimento que promova prazer e bem-estar. Foto: Mauro Schaefer
A relação entre a prática de exercícios físicos e a saúde é um dos temas mais estudados nas últimas décadas. A falta de atividade já foi considerada uma pandemia global, com impactos severos para a qualidade de vida e a longevidade da população. Recentemente, uma publicação assinada por pesquisadores de diversos países, incluindo o professor gaúcho Pedro Hallal, reforça que, mesmo em pequenas doses, exercícios podem gerar benefícios significativos para o organismo.
Ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Hallal está, atualmente, na Universidade de Illinois, Estados Unidos, onde atua como professor titular e coordenador do mestrado em saúde pública. Conforme ele, a recomendação tradicional da Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que adultos realizem, ao menos, 150 minutos semanais de atividade moderada para obter vantagens na saúde, algo que não é realizado pela grande maioria dos brasileiros. A principal descoberta de Hallal e demais pesquisadores é o fato de que, mesmo aqueles que não atingem essa meta, ainda podem colher benefícios ao incorporar pequenas quantidades de exercício no dia a dia. “O ideal é que todos atingissem o tempo indicado pela OMS, mas todo tipo de atividade é importante”, afirma.
O alerta sobre a inatividade física como um problema de saúde pública apareceu em uma série de artigos, em 2012, assinados por Hallal e outros pesquisadores, na revista The Lancet. Na época, eles mostraram que mais de 5 milhões de mortes por ano no mundo estavam relacionadas ao sedentarismo. “Naquela publicação, mostramos que mais de 30% dos adultos no mundo não atingiam as recomendações de atividades físicas e que 80% dos adolescentes eram inativos”, explica Hallal.
Os hábitos dos mais jovens são o fator que mais preocupa. “A situação já era muito ruim naquela época e a tendência é piorar, porque temos uma geração de jovens menos ativa do que a de adultos”, acrescenta. De lá para cá, as pesquisas seguiram demonstrando os efeitos da atividade física na prevenção de doenças. Entre os impactos mais relevantes está a redução dos riscos de déficit cognitivo e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Revisão de conceito
Um dos pontos centrais de outro estudo assinado pelo gaúcho em 2024 é a revisão da definição de atividade física, originalmente proposta em 1985. Na época, o conceito foi estabelecido como qualquer movimento da musculatura esquelética que resultasse em gasto energético. O grupo em que Hallal está inserido trabalhou em parceria com alguns dos autores da definição original para atualizá-la e propôs uma abordagem mais abrangente. “A nova definição complementa a anterior e reforça que os governos são responsáveis por tornar mais fácil para as pessoas incorporarem a atividade física no dia a dia”, destaca o pesquisador.
A ideia é que as atividades não precisam ocorrer apenas em ambientes como academias ou clubes esportivos. O conceito foi ampliado para incluir qualquer tipo de movimento que promova prazer e bem-estar, respeitando o contexto e as condições de cada indivíduo. Ao ampliar o estudo recente que traz o reconhecimento de que qualquer quantidade de exercício, mesmo abaixo dos 150 minutos recomendados por semana, pode gerar benefícios para a saúde, Hallal ressalta que o mais importante é o fato de sair do sedentarismo. O pesquisador explica que as atividades podem ser somadas ao longo do dia, sem a necessidade de um tempo específico apenas para a realização. “Mesmo que sejam sessões curtas espalhadas pelo dia, elas já têm impactos positivos”, afirma. “Embora não tragam o mesmo nível de benefício de uma prática mais intensa ou frequente, ainda assim fazem diferença na redução de riscos para diversas doenças”, acrescenta Hallal.
Esse ponto é considerado essencial para incentivar mais pessoas a se movimentar. Muitas vezes, a barreira para a prática está na dificuldade de encaixar longos períodos de treino na rotina. A nova diretriz indica que, ainda que pequenas, mudanças rotina, como caminhar até o trabalho, usar escadas em vez do elevador ou fazer pausas ativas, podem contribuir para a saúde geral.
Como escolher a melhor prática esportiva?
Dentre as opções, a caminhada é um ponto de partida, pois é acessível e segura. Foto: Camila Cunha
Muitas pessoas se perguntam qual exercício traz mais benefícios. Para o professor Pedro Hallal, a resposta é simples: aquele que a pessoa gosta. “A caminhada é sempre um ponto de partida, pois é acessível e segura para a maioria das pessoas”, recomenda. Para quem pretende iniciar com práticas mais avançadas, também são várias as opções. “Atividades aeróbicas, como corrida, natação e ciclismo, também são excelentes. Além disso, exercícios de resistência, como musculação e treinos intervalados de alta intensidade (HIT) vêm demonstrando cada vez mais benefícios”, acrescenta.
Independentemente da escolha, o fundamental é não deixar de se movimentar, garante o professor. “O mais importante é que as pessoas façam alguma atividade. Não importa tanto o tipo ou a dose, o que realmente importa é fazer”, conclui Hallal. Na mesma linha sobre a importância das atividades, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) recomenda que a população se mantenha ativa. O presidente da entidade Eduardo Neubarth Trindade ressalta que são vários os estudos que provam que a prática de exercícios regulares e contínuos aumenta a expectativa de vida. “A pessoa vai viver mais anos e, além disso, vai ter maior qualidade de vida durante esses anos”, afirma. Trindade lembra que a prática de atividades físicas resulta em qualidade de sono e melhora o sistema cardiovascular. “Até mesmo o sistema digestivo tem alterações benéficas”, acrescenta.
Risco do sedentarismo
Conforme o presidente, o surgimento de diversas doenças e a própria obesidade estão diretamente ligadas ao sedentarismo. “Há um aumento exponencial da prevalência de obesidade e isso está muito relacionado à diminuição da atividade física por parte da população. Isto ocorre tanto na atividade física regular e orientada por profissionais, quanto ao fato de que as pessoas estão caminhando menos e trabalhando em funções que exigem menos mobilidade e estimulam, de certa forma, o sedentarismo”, justifica.
A tendência global de atividade física tem se mantido relativamente estável. Embora os dados publicados em 2012, quando mais de 30% dos adultos eram inativos, tenham sido mantidos, Hallal observa que o sedentarismo também não avançou de forma significativa.
Desta forma, Trindade ressalta que o Cremers tem orientado os médicos a recomendarem que a sociedade se torne mais ativa fisicamente. “O conselho e todos médicos do Rio Grande Sul têm estimulado seus pacientes a fazer atividade física regular, que trará benefícios para a melhora da qualidade de vida atual, mas, também, para a melhora da expectativa de vida”, conclui o presidente da entidade.
Impactos positivos
Os impactos positivos do exercício são amplos e envolvem a prevenção de diversas doenças. Entre as condições que podem ser evitadas ou controladas com a prática regular estão: infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial; diabetes tipo 2, osteoporose; câncer de mama e câncer de cólon, doença de Alzheimer, depressão e ansiedade.
Movimento no tempo livre engaja praticantes
Pessoas praticam esportes nos parques. Foto: Mauro Schaefer
A prática de exercícios no tempo livre tem aumentado no Brasil. “Atividade física pode ocorrer em diferentes contextos: lazer, deslocamento e trabalho. Mas no lazer, que é quando as pessoas escolhem se exercitar, temos um aumento relevante”, destaca o pesquisador Pedro Hallal, que é graduado em Educação Física e possui mestrado e doutorado em epidemiologia, além de atuar na coordenação do Epicovid-19, considerado o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.
Os números mostram que o percentual de brasileiros que fazem alguma atividade no tempo livre subiu de 30% para 40% nos últimos anos. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, já que 60% das pessoas seguem sedentárias. A determinação é uma das características principais daqueles que decidem adotar um estilo de vida e hábitos saudáveis. Seja ao ar livre, na academia ou no deslocamento diário, há quem encontre no exercício um aliado para a saúde e o bem-estar.
No Parque Farroupilha – a Redenção –, o reciclador Osvaldo Prado Barbosa, 65 anos, sempre que pode, aproveita as academias públicas para se movimentar. “Junto latas e, quando passo pela Redenção, faço exercícios físicos. Venho pelo menos duas vezes por semana. Sempre que vejo um lugar adequado, paro e faço um pouco”, conta. Caminhadas também fazem parte da rotina de Barbosa. “É muito importante para evitar doenças, melhorar a circulação e manter o corpo em forma”, acrescenta.
A mesma academia ao ar livre é frequentemente visitada pelo aposentado José Américo Machado Lopes. Com 78 anos, a rotina de exercícios e a disposição fazem o idoso superar muitos jovens. “Dentro das minhas possibilidades, me mantenho ativo”, relata. Lopes conta que mantém essa rotina há vários anos e que, assim, seu corpo já se acostumou ao ritmo. “O organismo se habitua. Caminhei do bairro Santo Antônio até aqui e, apesar do calor, não me sinto cansado.”
Para a estudante Fernanda Gianni, 23 anos, o exercício está presente no cotidiano de diferentes formas. Além de frequentar a academia cerca de quatro vezes por semana, ela optou por trocar o transporte público pela bicicleta. “Mesmo tendo outras opções, prefiro a bike. Faz dois meses que comecei a vir do trabalho pedalando até perto da Redenção. No verão, é ainda melhor”, comenta. A decisão é também emocional. “Sair de casa e me movimentar melhora meu humor. Parece que faz o dia valer mais a pena e dá uma sensação de liberdade. Prefiro muito mais pegar a bicicleta do que enfrentar um ônibus lotado e não poder curtir o ar livre e a natureza”, afirma.
Já o aposentado Jorge Green, 72 anos, reforça a importância de manter o hábito ao longo da vida. “Pratico caminhadas quase todos os dias, de quatro a cinco vezes por semana. Já criei meus filhos e netos, hoje eles moram fora do Brasil e chegou a hora de eu cuidar de mim”, conta.
Hallal pondera, contudo, que apenas as atividades não são garantia de que os indivíduos não adoecerão, mas que, em comparação com pessoas sedentárias, a possibilidade é menor. “Não significa que uma pessoa fisicamente ativa jamais desenvolverá essas doenças, mas o risco é significativamente menor.”
Alimentação saudável devem estar associada à rotina de atividades
Para que os efeitos dos exercícios sejam potencializados, é fundamental que a alimentação esteja alinhada com hábitos saudáveis. De acordo com a nutricionista e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Mariane da Silva Dias, a adoção de uma dieta equilibrada, baseada em alimentos in natura ou minimamente processados, é essencial para a promoção da qualidade de vida e a prevenção de doenças crônicas.
“O Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB), publicado pelo Ministério da Saúde, tem como princípios entender que a alimentação é mais do que apenas a ingestão de alimentos, que as recomendações alimentares devem estar em sintonia com o seu tempo”, explica Mariane. O documento reforça que uma alimentação adequada e saudável deve ser baseada em um sistema alimentar sustentável, especialmente diante das emergências climáticas que o mundo tem enfrentado. “Devemos repensar o modo de produção de alimentos para garantir uma alimentação mais justa para a sociedade”, acrescenta.
A relação entre nutrição e saúde é amplamente documentada. Estudos apontam que uma dieta equilibrada combinada com exercícios físicos auxilia no controle do peso corporal, melhora a saúde metabólica e reduz o risco de diversas doenças, como diabetes tipo 2, hipertensão e câncer. “O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está diretamente associado a esses agravos, devido à presença de aditivos, excesso de açúcar, gorduras e sódio”, alerta a nutricionista.
Além do que se come, a forma como a alimentação é realizada também tem impacto significativo na saúde. “O Guia Alimentar enfatiza a importância de valorizar o ato de se alimentar em ambientes agradáveis, compartilhar refeições e respeitar os sinais de fome e saciedade, promovendo assim uma relação mais saudável com a comida”, pontua a nutricionista Mariane.
Promover hábitos saudáveis não é apenas uma responsabilidade individual, mas também um desafio coletivo. “Políticas públicas que incentivem a alimentação de qualidade e a atividade física são essenciais para transformar o ambiente alimentar e promover o bem-estar da população”, reforça a especialista.
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