Publicado por: Marcelo José de Sá Diretor-Presidente e Editor-Geral do Site do Jornal Espaço
Pesquisa inédita mostra que quase 1 em cada 4 jovens entre 13 e 18 anos utiliza plataformas de relacionamento; especialistas alertam para riscos à saúde mental e segurança online

Quase metade dos adolescentes diz que redes sociais são ruins para a saúde mental dos jovens • Foto: Freepik
Uma nova pesquisa publicada esta semana no Journal of Psychopathology and Clinical Science revelou que adolescentes estão usando aplicativos de namoro com mais frequência do que se imaginava. O estudo apontou que 23,5% dos jovens entre 13 e 18 anos utilizaram esse tipo de plataforma ao longo de um período de seis meses — um índice superior às estimativas anteriores.
A novidade do estudo, segundo os pesquisadores, é que ele é o primeiro a monitorar o uso de aplicativos de namoro por adolescentes por meio da atividade no teclado do celular, e não apenas com base em relatos autodeclarados, como costuma ser feito.
Apesar de não haver diferença significativa, após seis meses, entre os níveis gerais de sintomas de saúde mental entre usuários e não usuários, o estudo observou que os adolescentes que usaram os aplicativos com mais frequência apresentaram mais sintomas associados à depressão maior.
“Essa pesquisa mostrou algum grau de associação entre o uso de aplicativos de namoro e o aumento de sintomas depressivos, além de maior envolvimento em comportamentos de risco”, explicou Lilian Li, autora principal do estudo e pesquisadora no Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento da Feinberg School of Medicine da Universidade Northwestern, em Chicago.
A amostra, porém, foi limitada: dos 149 adolescentes analisados, apenas 35 utilizaram aplicativos de namoro. Além disso, como o estudo monitorou apenas entradas no teclado, não foi possível captar outros tipos de interações, como curtidas ou visualizações de perfis.
Mesmo assim, especialistas afirmam que há motivos para os pais se preocuparem. Aplicativos de namoro podem representar riscos adicionais para os adolescentes, como exposição a predadores sexuais, segundo alertam pesquisadores. Há ainda o perigo do catfishing, quando alguém se passa por outra pessoa para manipular emocionalmente o jovem e obter imagens íntimas, que podem ser usadas para extorsão ou chantagem.
Esses riscos são preocupantes mesmo entre adultos, mas se agravam entre adolescentes, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento e tende a assumir mais riscos em busca de recompensas, de acordo com o Centro para o Adolescente em Desenvolvimento da UCLA.
“O estudo mostrou que adolescentes que já se envolvem em outros comportamentos de risco, como uso de substâncias e quebra de regras, também são mais propensos a usar aplicativos de namoro”, aponta Li.
Outro fator preocupante é que os adolescentes podem não estar preparados para reconhecer possíveis armadilhas online, como um relacionamento com um adulto criminoso, ou para avaliar as consequências de marcar encontros presenciais com desconhecidos da internet.
Em resposta à pesquisa, o Match Group — dono do Tinder, aplicativo mais usado entre os adolescentes estudados — afirmou que “menores de idade não são permitidos em nossas plataformas, ponto final”. A empresa também destacou o uso de tecnologias como verificação de idade com IA, bloqueio de dispositivos, moderação humana e parcerias com organizações como a THORN e a ROOST, voltadas à segurança infantil.
A empresa ressalta ainda que as estatísticas da pesquisa incluem “aplicativos de descoberta social”, que são diferentes dos de namoro. No entanto, o problema vai além dos riscos de segurança. Especialistas alertam que o uso precoce dessas plataformas pode atrapalhar o desenvolvimento de habilidades interpessoais importantes para a construção de relacionamentos saudáveis e duradouros.
Relacionamentos bem-sucedidos dependem de habilidades como diálogo, empatia e resolução de conflitos — competências que se desenvolvem em interações reais. Pesquisas de Harvard mostram que relações próximas e saudáveis são fundamentais para a felicidade e até para a saúde física.
Em entrevistas para um livro sobre o tema, usuários relataram que os aplicativos fazem com que os relacionamentos pareçam descartáveis. “Se alguém te desagrada por qualquer motivo, basta entrar no app e encontrar outra pessoa”, afirmou uma das entrevistadas.
Diante desse cenário, os especialistas recomendam que os pais conversem com os filhos sobre o uso de aplicativos e alternativas mais saudáveis de socialização, como atividades extracurriculares e encontros presenciais com colegas. Também é importante preparar os adolescentes para o uso responsável dessas plataformas no futuro, com dicas práticas de segurança: fazer chamadas de vídeo antes de encontros, marcar encontros em locais públicos, informar familiares sobre o local e evitar ficar a sós com alguém até haver confiança.
Embora muitos pais acreditem que seus filhos jamais usariam aplicativos de namoro ou se encontrariam com desconhecidos, os dados sugerem o contrário. Por isso, é essencial manter o diálogo aberto e ajudar os adolescentes a desenvolver relacionamentos mais saudáveis — fora das telas.
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