Foto: Reprodução
Karla Araújo
Pastor Gilmar Santos, advogado Luciano Musse e ex-servidor municipal Helder Bartolomeu foram presos na operação da Polícia Federal
Publicado por: Marcelo José de Sá – Editor-Presidente e Diretor-Geral do Site do jornal Espaço
Três pessoas com ligações políticas, profissionais e religiosas em Goiás foram presas na quarta-feira (22) na operação Acesso Pago, deflagrada pela Polícia Federal com o objetivo de investigar tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao Ministério da Educação (MEC).
Foram presos preventivamente o pastor Gilmar Santos, o ex-gerente de projetos da Secretaria Executiva do MEC, Luciano Musse, e o ex-assessor da Secretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu.
Natural do Maranhão, Gilmar está em Goiás há cerca de 40 anos e é líder da igreja Assembleia de Deus Cristo para Todos, com sede no Jardim América. O religioso também é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (Conimadb).
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Ao longo das últimas décadas, ele construiu relacionamento com lideranças políticas do estado e chegou a ser cotado em 2020 para ser candidato a vice-prefeito de Goiânia em uma chapa encabeçada por Felisberto Tavares, que na época era vereador e filiado ao Podemos. As tratativas não avançaram e Felisberto já afirmou que, na época, encontrou com o religioso “duas ou três vezes”, mas não o conhecia.
Assessor de Gilmar, Arilton Moura também foi preso. Os dois religiosos foram apontados em uma série de reportagens como figuras centrais em um suposto gabinete paralelo no MEC com influência no agendamento de reuniões de prefeitos com Milton Ribeiro, quando este estava no comando da pasta. O ex-ministro também foi preso nesta quarta-feira.
Em meio à divulgação do esquema, prefeitos relataram que receberam pedidos de propina em troca de mais facilidade para receber recursos da Educação para suas cidades. Gilmar e Arilton não tinham cargos no MEC.
Em Goiás, Gilmar recebeu títulos de cidadania na Assembleia Legislativa e na Câmara de Goiânia, nos anos de 2015 e 2006, respectivamente. Na Assembleia, a iniciativa foi de Marlúcio Pereira. Já na Câmara, a proposta foi do então vereador Abdiel Rocha. No ano passado, o pastor recebeu o título de Maior Personalidade Evangélica de uma revista do estado.
Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado
Envolvidos
Já Luciano Musse é advogado com registro em Goiás. Ele é irmão do engenheiro Marcos Musse, que foi diretor na antiga Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), atual Goinfra, durante governo tucano. Marcos já foi investigado em operações que apuraram irregularidades na agência. Os dois são filhos de Fause Musse, que já ocupou cargo de superintendente no Centro de Reabilitação e Readaptação dr. Henrique Santillo (Crer). A reportagem entrou em contato com Marcos, que afirmou não ter detalhes sobre o caso envolvendo o irmão.
No MEC, Luciano foi nomeado em abril de 2021 e exonerado em março deste ano, após a saída de Ribeiro da cadeira de ministro. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que ele era do grupo dos pastores Gilmar e Arilton e teria participado de reuniões com prefeitos.
Advogado de Luciano, Zoser Hardman afirma que foi determinada prisão domiciliar de seu cliente. Segundo Hardman, Luciano foi levado para a superintendência da Polícia Federal em Brasília. Ele passará por audiência de custódia nesta quinta-feira (23). Se a prisão for mantida, ele volta para Goiânia. Hardman disse que ainda não teve acesso ao processo e argumentou que a prisão pegou Luciano e seus familiares de surpresa.
A terceira pessoa presa na operação com ligações em Goiás é Helder Bartolomeu, que participava da comitiva dos pastores. Ele chegou a ser nomeado para cargo na Prefeitura de Goiânia em maio de 2021, com salário bruto de R$ 2.189.
Em nota, a administração informou que Helder não compareceu para trabalhar. Por este motivo, foi aberto, no dia 15 de junho de 2021, processo administrativo por abandono de cargo. Segundo a prefeitura, a exoneração foi formalizada no Diário Oficial do Município em 10 de maio de 2022. “Logo que instaurado o procedimento, houve o devido bloqueio de salário, em julho de 2021, o que impediu que fossem realizados pagamentos indevidos. O processo também assegura a devolução de eventual quantia”, informou. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Gilmar, Arilton e Helder.
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Lideranças políticas defendem esclarecimento de fatos
“Quem dever, há de responder. E quem não dever, certamente há de ficar esclarecido que não deve. Acho que esse é o ponto alto da investigação.” A afirmação é do deputado federal João Campos (Republicanos), uma das lideranças políticas goianas com quem o pastor Gilmar Mendes – preso nesta quarta-feira (22) em operação da Polícia Federal que investiga irregularidades no Ministério da Educação – construiu relacionamento desde que chegou a Goiás. O jornal O Popular mostrou em março que Quézia Ribeiro dos Santos Costa, filha do pastor, trabalhava no gabinete de Campos. No entanto, segundo o parlamentar, Quézia deixou a função com a justificativa de se dedicar à família e à instituição de ensino do pai. Gilmar é dono do Instituto Teológico Cristo para Todos. No site da entidade, Quézia aparece como coordenadora. No gabinete de João Campos, ela ocupava o cargo de Secretário Parlamentar 11, com salário bruto de R$ 2.541,59. Quézia trabalhava com João Campos desde junho de 2021 no escritório político de Goiânia.
Líder da igreja Cristo para Todos, Gilmar pediu, durante culto na terça-feira (21), dinheiro aos fiéis para reforma no prédio da instituição. O pastor também é presidente da Conimadb. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com a convenção.
O deputado estadual Jeferson Rodrigues (Republicanos) também já apareceu em fotos ao lado de Gilmar. Em nota, o parlamentar confirmou que já o encontrou algumas vezes, mas em nenhuma delas para tratar de temas ligados às denúncias.
O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia e pré-candidato ao governo de Goiás Gustavo Mendanha (Patriota) também já declarou que conhece Gilmar. Ele disse, também por nota, que nunca obteve qualquer informação de desvio de conduta do pastor, e declarou que se for provada culpa em alguma irregularidade, a lei tem que ser cumprida.
Fonte: jornal O Popular