Pais de alunos e professores do Colégio Estadual Alfredo Nasser, em Uruaçu, estão resistentes com o retorno às aulas de um estudante que foi personagem de uma polêmica no mês passado.O adolescente, de 16 anos, foi apontado por policiais militares como suspeito de planejar um atentado a tiros contra a instituição de ensino no dia 17 de abril. Quase um mês depois, ele deve voltar a frequentar o colégio, depois de ter passado por avaliação psicológica e psiquiátrica. Mas a comunidade escolar não aceitou bem a ideia e tem até estudante se transferindo para outros colégios da cidade por medo.
Após investigação, o Ministério Público e a Polícia Civil defendem que o estudante não planejava um ataque e que, apesar de precisar ser acompanhado, tem condições de retornar aos estudos. No dia 17, o adolescente foi encaminhado para a Delegacia de Polícia por supostamente estar planejando um ataque contra o colégio. As evidências seriam uma folha de caderno com detalhes do plano macabro escrito à mão e armas de fogo irregulares apreendidas na casa do pai do garoto. O caso chegou a ser amplamente divulgado na imprensa.
Conforme a promotora de justiça que cuida da área de infância e educação, Daniela Haun, as armas apreendidas realmente estavam na casa do pai do adolescente, mas ele morava em outra residência e não tinha contato com o filho. Além disso, elas estavam dentro de um cofre.
“Não tem contexto desse adolescente ter sido flagrado, ele não tinha arma com ele, nem estava em iminência de fazer atentado terrorista”, avalia.
Já a folha de caderno com anotações supostamente planejando o atentado teria sido confeccionada ainda no mês de março, época do atentado em uma escola de Suzano, no interior de São Paulo, com oito mortos. No topo da página está escrito “1º de abril” e em seguida são enumerados itens como “60 balas por ama”, “finalizações à faca” e “30/50 mortos. Começar com os diretores, coordenadores, professores e porteiro”.
“Foi só um desenho infeliz de um adolescente. Ele inclusive se arrepende de ter feito isso. Se ele queria matar alguém, a vontade deve ter passado, no dia 17 de abril ele não estava na iminência de fazer isso”, diz a promotora, que defende que o estudante precisa ser acompanhado de perto, mas que há um problema pedagógico e não um ato infracional. O estudante teria dificuldade de conviver com outros colegas, pois se destacaria nos estudos acima da média.
Uma foto com o desenho da página do caderno já circulava entre os estudantes em grupos de WhatsApp. No dia em que o adolescente foi levado para a Delegacia e teve a casa revistada, colegas teriam se alardeado porque ele havia faltado aula e levaram o caso para a direção do colégio.
A posição da promotora é a mesma do delegado Rafhael Neris Barboza. “O atentado, para ser punido, precisa ter uma mínima execução, as ferramentas. Essas armas estavam em contexto fático totalmente adverso. Se juntou tudo e se espalhou um boato. Não há fato a ser punido. Não houve processo. Se fantasiou mais do que realmente era necessário”, avalia.
O superintendente da Secretaria de Educação (Seduc), coronel Avelar Lopes Viveiros, disse que a pasta não foi informada sobre o retorno do aluno. Segundo ele, caso isso aconteça oficialmente, uma equipe multiprofissional pode ser enviada para o colégio para auxiliar o processo.
Alunos são transferidos por medo
As alegações da Polícia Civil e do Ministério Público, de que o adolescente acusado de planejar um atentado poderia voltar a estudar, não convenceram a comunidade escolar do Colégio Alfredo Nasser, em Uruaçu. Na última semana, o Colégio Estadual Joana Darc, também de Uruaçu, recebeu 12 estudantes transferidos do Alfredo Nasser. A justificativa dos pais foi medo. “Eles têm medo de deixar os filhos lá e acontecer o que o menino planejou”, explica a diretora Maria Divina da Silva Santos. Já no Polivalente, outra instituição pública de ensino da cidade, foram 5 transferidos.
Na última semana houve uma paralisação no colégio e protesto de pais de estudantes contrários à permanência do adolescente. Como resposta, foi organizada uma reunião com a promotora Daniela Haun, que cuida do caso. Ela e o delegado Rafhael Neris Barboza dizem entender que houve muitas notícias falsas sobre o caso, que acabou ganhando uma proporção maior do que deveria. O estudante nem chegou a ser apreendido, já que não haveria evidência suficiente de flagrante.
Daniela relata, que logo que o caso aconteceu, o estudante passou alguns dias em outra cidade. “O que apareceu de denúncia que ele estava ameaçando gente na porta de escola e nem na cidade ele estava”, relata. Ela diz se preocupar com a segurança do adolescente, já que ele estaria muito exposto com a situação.
Além dele, um outro adolescente, que não tinha nenhuma relação com o caso, teve a foto divulgada nas redes sociais, sendo apontado como um estudante que planejava atentado terrorista. “Esse adolescente sofre até ameaça e estão vinculando o fato a pessoa que não é ele. Inclusive, eles nem se conhecem. Já tem dizendo que eles são uma quadrilha”, conta a promotora.
“O que identificamos é que é menino muito inteligente, muito acima da média, que vai ter um acompanhamento individual agora. Não é tratamento de polícia, não que tem que ser internado”, diz o delegado Neris Barboza.
Logo após o caso, o colégio teve uma mudança na direção e agora é comandada por um servidor transferido de Goiânia. A reportagem entrou em contato com o novo diretor, que preferiu não comentar o caso, já que está há menos de uma semana no cargo. A Secretaria de Educação (Seduc) garante que a alteração não tem relação com o adolescente acusado de planejar um atentado.
Fonte: Jornal do Vale