Kelton Pinheiro em selfie durante evento com ministro Milton Ribeiro e pastores em Brasília, em março de 2021
Publicado Por: Marcelo José de Sá – Editor-Presidente e Diretor-Geral do Site do jornal Espaço
Kelton Pinheiro (Cidadania), prefeito de Bonfinópolis, diz ao POPULAR que Arilton Moura cobrou propina após reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, em Brasília, em 2021
Edição: Jornalista Karla Araújo O Popular
O pastor Arilton Moura, apontado como um dos líderes do gabinete paralelo do Ministério da Educação, pediu R$ 15 mil para intermediar a transferência de recursos da pasta para a Prefeitura de Bonfinópolis, cidade da Região Metropolitana de Goiânia. O episódio foi relatado pelo prefeito da cidade, Kelton Pinheiro (Cidadania), e, segundo ele, ocorreu no início de 2021. O chefe do Executivo conta que recusou a proposta e seu requerimento para a construção de uma escola no município nunca andou.
Kelton afirma que, após conceder uma entrevista a uma emissora, um funcionário da empresa disse que conhecia pastores que ajudavam municípios a conseguir recursos relacionados à educação, e perguntou se o prefeito tinha interesse no contato. “A gente que está representando município sempre tem interesse em buscar todas as novidades para a cidade. Passei meu contato para ele”, diz.
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O prefeito conta que teve breve encontro com os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos em Goiânia, oportunidade em que eles disseram, segundo o prefeito, que o nome do gestor seria colocado em uma lista de visita ao ministério. De acordo com Kelton, uma pessoa que se identificou como funcionário do MEC entrou em contato por WhatsApp e pediu o nome e o CPF do prefeito e de seu acompanhante na visita.
O gestor diz ter achado a abordagem pelo WhatsApp estranha e chegou a perguntar a colegas prefeitos se conheciam o contato, mas não teve sucesso. Por fim, ele decidiu passar as informações para o cadastro. Kelton relata que ao chegar no MEC participou de um encontro que reuniu prefeitos de diferentes estados, em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, falou sobre os programas da pasta e ressaltou compromisso do governo de Jair Bolsonaro (PL) com transparência e honestidade.
Kelton conta que, após a reunião, foi convidado para almoço no restaurante Tia Zélia junto com um grupo de prefeitos. Durante a refeição, Arilton propôs o pagamento de propina. “Disse que se eu quisesse o recurso para a construção de uma escola, eu teria que dar R$ 15 mil para ele (Arilton)”, relatou. “Eu disse que não podia, que o município não tinha como fazer esse tipo de pagamento e que eu não iria desembolsar isso do bolso, até porque não é correto. Mesmo se eu tivesse o recurso, eu não faria. E foi esse o contato que tive com ele”, afirmou o prefeito.
Agenda
Na entrevista ao POPULAR, o prefeito disse que não lembrava exatamente a data do episódio. No dia 21 de março de 2021, Kelton postou uma selfie em uma rede social em que, ao fundo, aparece uma mesa em que estão, entre outras autoridades, o ministro Milton Ribeiro e o pastor Gilmar. A data coincide com uma reunião envolvendo dezenas de representantes de cidades de Goiás e outros estados, compromisso que consta na agenda oficial do auxiliar de Bolsonaro.
Kelton afirma que entrou com pedido formal de verba para construção de uma escola em Bonfinópolis e foi informado pelo MEC que era necessário fazer cadastro no Plano de Ações Articuladas (PAR) do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). De acordo com ele, o processo foi iniciado, mas ainda não houve decisão. “Eu sou prefeito reeleito. Eu já sei como funciona o ministério. Não é dessa forma ‘me dá um ofício aqui, que vou levar para o meu amigo ministro e ele vai liberar’, não é assim que funciona”, disse.
O prefeito afirma que, na época, pensou em denunciar os pastores, mas desistiu. “Eu pensei, o que vou denunciar? São dois pastores. O ministro vai falar que não tem nada com isso.”
Modo de operação
O episódio relatado pelo prefeito goiano é semelhante a uma história descrita pelo prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), ao jornal Estado de S.Paulo. Em reportagem publicada nesta quarta-feira (23), Gilberto disse que Arilton pediu R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas da cidade e mais um quilo de ouro após a liberação dos recursos. A conversa aconteceu, inclusive, no mesmo restaurante, mas em abril.
Em Goiás, o prefeito de Jaupaci, Laerte Dourado (PP), diz que participou de encontro do MEC a convite de “pessoas ligadas” aos pastores. O gestor disse que não conhece os religiosos. O POPULAR já mostrou o caso da Prefeitura de Vianópolis. O secretário de Educação, Cultura e Turismo, Kleber Pereira de Oliveira, contou que esteve em reunião no ministério a convite de Gilmar. Laerte e Kleber afirmam que não conseguiram recursos após as agendas.
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Esquema
A existência de um grupo de pessoas sem ligação com a administração pública e o setor de ensino que facilita acesso ao ministro da Educação e a recursos da pasta foi divulgada em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo. O grupo seria liderado por Gilmar e Arilton. Gilmar lidera a Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos, que tem sede no Jardim América, em Goiânia. O pastor também é presidente Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil (Conimadb). Arilton é assessor da instituição.
Nesta semana, a Folha de S.Paulo divulgou áudio atribuído a Milton Ribeiro, em que o ministro afirma que atender pedidos de Gilmar foi um pedido de Bolsonaro. O ministro divulgou nota afirmando que não houve solicitação de favorecimento. A reportagem tentou contato com Gilmar e Arilton por meio da Conimadb, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.
Nesta quarta, Gilmar divulgou vídeo nas redes sociais com discurso direcionado para fiéis da igreja da qual é líder. O pastor não cita diretamente o caso no qual está envolvido e ressalta que é pregador há mais de 40 anos. “Aqui está o mesmo pastor Gilmar Santos, convivendo com a verdade, para falar a verdade e viver a verdade”, disse.