sexta-feira - 05 - setembro - 2025

Brasil / Economia / Tesourada: Governo anuncia bloqueio de R$ 6,7 bi no Orçamento às vésperas da eleição

Palácio do Planalto, em Brasília, em dia chuvoso. Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

Publicado por: Marcelo José de Sá Diretor–Presidente e Editor-Geral do Site do jornal Espaço

O Ministério da Economia anunciou nesta sexta-feira um bloqueio de R$ 6,7 bilhões no Orçamento deste ano, diante da necessidade de cumprir o teto de gastos (regra que limita as despesas federais).

O novo corte de verbas vai ocorrer às vésperas das eleições e criou uma tensão no governo Jair Bolsonaro, já que diversos ministérios estão reclamando de falta de recursos para a execução de seus projetos. A distribuição dos cortes só será divulgada na próxima semana e os ministérios tentam escapar da tesourada.

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O bloqueio, o terceiro do ano, ocorre por conta do teto de gastos, a regra que impede o crescimento das despesas federais acima da inflação. Como as despesas totais são limitadas pelo teto, quando um gasto obrigatório sobe mais que o previsto no Orçamento, é necessário bloquear despesas não obrigatórias (essencialmente investimentos e custeio da máquina pública).

De acordo com o Ministério da Economia, já estão bloqueados R$ 5,9 bilhões no Orçamento, por conta de avaliações feitas nos meses anteriores — esse tipo de análise ocorre a cada dois meses. Agora, o bloqueio sobe para R$ 12,7 bilhões.

O corte é feito mesmo diante das estimativas de melhora constante na arrecadação de impostos. No primeiro semestre deste ano, a arrecadação federal somou R$ 1,114 trilhão, considerando a inflação, o que representa alta real de 11% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Apesar desses dados, o comportamento das despesas exigirá um novo bloqueio de verbas. Na avaliação bimestral de receitas e despesas, foi constatado aumento dos gastos obrigatórios, de acordo com o Ministério da Economia.

Entre as despesas que pressionaram o bloqueio, está a derrubada pelo Congresso do veto presidencial às leis que determinam o repasse de R$ 3,86 bilhões do Fundo Nacional de Cultura (FNC) para fomento de atividades e produtos culturais em razão dos efeitos econômicos e sociais da pandemia de Covid-19.

A fome no Brasil, reduzida para 5% da população em 2014, saltou agora para 15% e atinge 33 milhões de brasileiros

As despesas também cresceram por conta do piso salarial para a agentes comunitários de saúde (R$ 2,24 bilhões). A lei aprovada pelo Congresso estabelece um valor mínimo de dois salários mínimos (hoje, R$ 2.424). O governo federal vai gastar mais porque precisará passar os valores como assistência a estados e municípios.

A pobreza que se vê nas ruas e periferias de hoje está no mesmo nível da registrada entre 2009 e 2011

Não se tinha uma inflação tão alta quanto a de agora desde 2003. O índice em 12 meses supera 11% e corrói a renda

Projeções

O Ministério da Economia atualizou ainda a projeção para as contas públicas neste ano. Mesmo considerando os cortes de impostos feitos pelo governo Jair Bolsonaro para tentar reduzir o preço dos combustíveis, a previsão de receitas aumentou.

Por conta da PEC Eleitoral, por sua vez, o total de despesas previstas neste ano (dentro do teto ou não) aumentou R$ 45,819 bilhões, para R$ 1,834 trilhão.

Com isso, o governo projeta que terminará o ano com o rombo de R$ 59,3 bilhões (dado R$ 6 bilhões melhor que a estimativa anterior, de dois meses atrás).

A pequena Aline come as migalhas de um bolo. Foto: Agência O Globo

Com o alto preço do gás, Simone, de 49 anos, é obrigada a retroceder a lenha para cozinhar no quintal de casa. Foto: Agência O Globo

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Vitória dos Santos Macedo, de 21 anos, era ambulante na praia. Com a pandemia, deixou de trabalhar. Vivendo com o marido no Vale dos Eucaliptos, em Senador de Vasconcelos, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a casa deles não tem água encanada, nem fogão, nem geladeira. Foto: Agência O Globo

Dados mostram que, com o impacto da queda de renda durante a pandemia, 14% dos brasileiros que não eram considerados pobres em 2019 estão nessa situação em 2021. Foto: Agência O Globo

Júlio, que preferiu não mostrar o rosto, era lanterneiro e perdeu o emprego na pandemia. Com problemas na família, foi morar recentemente na rua, dormindo na Praça Jardim do Méier, Zona Norte do Rio. Foto: Agência O Globo

Reclamação

O governo agora vai ter que escolher onde passar a tesoura, o que já tem gerado pressão de ministros e parlamentares. Ainda não está decidido, por exemplo, se haverá cortes nas emendas de relator, base do Orçamento secreto. Por conta da lei eleitoral, essas emendas não podem ser liberadas até as eleições e nem tudo foi empenhado — há, portanto, uma parte que pode ser cortada.

Uma reclamação constante de falta de recursos está vindo do Ministério da Educação, que aponta a necessidade de dinheiro para manutenção das universidades. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) alerta que a situação é grave e que o funcionamento das instituições pode ficar inviabilizado se não houver uma recomposição dos orçamentos.

O Ministério da Defesa também reclama da falta de recursos para a manutenção das atividades das Forças Armadas. Na Infraestrutura, a queixa é de falta de dinheiro para manutenção de rodovias. Já no Ministério do Desenvolvimento Regional, estariam ameaçadas as ações de prevenção relacionadas à Defesa Civil.

Escolas fechadas e sem suporte aos alunos levou a evasão entre 5 e 9 anos alcançar o nível de 2006.

O nível atual da produção industrial captada nas Contas Nacionais do IBGE, é similar a 2009, retrocesso de 13 anos.

Em 2021, foram mapeados mais de 13 mil km desmatados na Amazônia, situação só vista em 2008.

O consumo das famílias, motor da economia, regrediu aos patamares de 2015, e a renda domiciliar per capta a 2011.

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