domingo - 24 - novembro - 2024

Covid-19 / Mundo: Um ano após ter sido declarada, a pandemia não recuou

Por Brice de le Vingne, líder da força-tarefa de MSF contra a COVID-19 em 2020 e coordenador de emergência

Há um ano, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava o surto de COVID-19 como uma pandemia. Em Médicos Sem Fronteiras – organização em que prestar assistência médica durante epidemias é a essência do que fazemos -, enfrentamos um duplo desafio. Precisávamos encontrar uma maneira de responder aos surtos dessa nova doença, ao mesmo tempo em que mantínhamos nossos programas médicos regulares funcionando e reagíamos a novas emergências, como o conflito na Etiópia e os surtos de Ebola na República Democrática do Congo e na Guiné.

Em janeiro de 2020, o primeiro projeto contra a COVID-19 de MSF foi inaugurado em Hong Kong, com foco em atividades de educação em saúde para pessoas vulneráveis, como idosos e pessoas em desvantagem socioeconômica. Em março, a epidemia estava se espalhando como um incêndio pela Europa e MSF lançou projetos em alguns dos países mais gravemente afetados, incluindo Bélgica, Espanha e Itália. Prestamos apoio a hospitais, enviando equipes médicas experientes em surtos de doenças infecciosas. Também fizemos o que pudemos para treinar nossos colegas sobre como se manterem seguros, sabendo como a equipe de saúde pode ficar exposta durante os surtos.

Cada vez mais voltamos nossa atenção para os idosos em lares de idosos, cuja idade e ambiente de vida os tornavam extremamente vulneráveis à COVID-19. A partir de março, à medida que a epidemia continuava a se espalhar pelo mundo, MSF seguiu seu caminho, abrindo novos projetos e adaptando os existentes, como sempre fazemos durante as epidemias, mas, desta vez, em escala global.

No entanto, não era apenas a escala que era diferente. Ao primeiro sinal de outras epidemias, como cólera ou febre amarela, ampliamos o tamanho de nossas equipes, enviamos especialistas e distribuímos toneladas de suprimentos adicionais. Mas, à medida que o coronavírus foi se tornando mais rigoroso em cada vez mais países, muitos governos fecharam suas fronteiras. Transferir equipes médicas e suprimentos para onde eles eram mais necessários tornou-se um grande desafio.

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Mas, em sua essência, nossa resposta à COVID-19 não foi diferente de nossos outros projetos médicos. Nos concentramos nos locais onde o maior número de pessoas está adoecendo e morrendo e procuramos atender as pessoas mais vulneráveis.

Durante a pandemia, essa abordagem nos permitiu estabelecer projetos médicos em lugares onde raramente trabalhamos, como os Estados Unidos e vários países da Europa. Nesses locais, ajudamos grupos de pessoas que não atendemos com frequência, como residentes de lares de idosos. Mas nosso raciocínio médico não mudou. E muitas das pessoas que ajudamos não são novas para MSF: refugiados e pessoas em movimento, pessoas em áreas rurais com acesso precário a cuidados de saúde, comunidades negligenciadas nas cidades, entre outros grupos.

Na tentativa de ajudar as pessoas que mais necessitam, MSF realizou uma ampla gama de atividades nos últimos 14 meses, de acordo com as formas de apoio mais úteis para os sistemas de saúde locais. Organizamos um grande número de sessões de treinamento para o pessoal de saúde da linha de frente, tanto em hospitais bem equipados em lugares ricos quanto em instalações muito básicas. Nós os apoiamos com prevenção e controle de infecção e desinfecção, pessoal, triagem e fluxo de pacientes.

Cuidamos de pacientes: os casos mais leves, os gravemente doentes e os que estão morrendo. Em alguns lugares, apoiamos enfermarias de terapia intensiva, em outros, as administramos. Distribuímos máscaras e ensinamos as pessoas a adotar medidas preventivas simples para se manterem seguras, como manter o distanciamento e lavar as mãos. Alcançamos milhões de pessoas com essas mensagens nas redes sociais. E oferecemos muitas, muitas sessões de saúde mental, principalmente para profissionais que estão no combate à pandemia.

Tendo trabalhado na linha de frente de epidemias, sabemos em primeira mão como esse trabalho pode ser exigente, cansativo e estressante. Muitos dos profissionais de saúde que trabalharam tão incansavelmente no último ano tinham pouca ou nenhuma experiência anterior com surtos de doenças infecciosas. Nenhum tinha experiência com a COVID-19. Diante de uma doença nova e desconhecida, sem ferramentas para tratar os pacientes, com medo de ser infectado no trabalho e transmitir a infecção para entes queridos em casa, essa pandemia tem sido um enorme fardo emocional para a equipe de saúde da linha de frente. Devemos cuidar das pessoas que cuidam de nós.

Um ano após sua declaração oficial, a pandemia não recuou. Agora existem vacinas seguras e eficazes, mas para a grande maioria das pessoas elas ainda não estão disponíveis – e podem não estar por muito tempo. Muitas vezes, as pessoas deixadas para trás quando se trata de medidas preventivas e de acesso a cuidados de saúde são as mesmas pessoas que caem novamente nas lacunas de vacinação. Dedicada a ajudar os mais vulneráveis, o papel de MSF nessa pandemia ainda não acabou.

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Há um ano, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava o surto de COVID-19 como uma pandemia. Em Médicos Sem Fronteiras – organização em que prestar assistência médica durante epidemias é a essência do que fazemos -, enfrentamos um duplo desafio. Precisávamos encontrar uma maneira de responder aos surtos dessa nova doença, ao mesmo tempo em que mantínhamos nossos programas médicos regulares funcionando e reagíamos a novas emergências, como o conflito na Etiópia e os surtos de Ebola na República Democrática do Congo e na Guiné.

Em janeiro de 2020, o primeiro projeto contra a COVID-19 de MSF foi inaugurado em Hong Kong, com foco em atividades de educação em saúde para pessoas vulneráveis, como idosos e pessoas em desvantagem socioeconômica. Em março, a epidemia estava se espalhando como um incêndio pela Europa e MSF lançou projetos em alguns dos países mais gravemente afetados, incluindo Bélgica, Espanha e Itália. Prestamos apoio a hospitais, enviando equipes médicas experientes em surtos de doenças infecciosas. Também fizemos o que pudemos para treinar nossos colegas sobre como se manterem seguros, sabendo como a equipe de saúde pode ficar exposta durante os surtos.

Cada vez mais voltamos nossa atenção para os idosos em lares de idosos, cuja idade e ambiente de vida os tornavam extremamente vulneráveis à COVID-19. A partir de março, à medida que a epidemia continuava a se espalhar pelo mundo, MSF seguiu seu caminho, abrindo novos projetos e adaptando os existentes, como sempre fazemos durante as epidemias, mas, desta vez, em escala global.

No entanto, não era apenas a escala que era diferente. Ao primeiro sinal de outras epidemias, como cólera ou febre amarela, ampliamos o tamanho de nossas equipes, enviamos especialistas e distribuímos toneladas de suprimentos adicionais. Mas, à medida que o coronavírus foi se tornando mais rigoroso em cada vez mais países, muitos governos fecharam suas fronteiras. Transferir equipes médicas e suprimentos para onde eles eram mais necessários tornou-se um grande desafio.

Mas, em sua essência, nossa resposta à COVID-19 não foi diferente de nossos outros projetos médicos. Nos concentramos nos locais onde o maior número de pessoas está adoecendo e morrendo e procuramos atender as pessoas mais vulneráveis.

Durante a pandemia, essa abordagem nos permitiu estabelecer projetos médicos em lugares onde raramente trabalhamos, como os Estados Unidos e vários países da Europa. Nesses locais, ajudamos grupos de pessoas que não atendemos com frequência, como residentes de lares de idosos. Mas nosso raciocínio médico não mudou. E muitas das pessoas que ajudamos não são novas para MSF: refugiados e pessoas em movimento, pessoas em áreas rurais com acesso precário a cuidados de saúde, comunidades negligenciadas nas cidades, entre outros grupos.

Na tentativa de ajudar as pessoas que mais necessitam, MSF realizou uma ampla gama de atividades nos últimos 14 meses, de acordo com as formas de apoio mais úteis para os sistemas de saúde locais. Organizamos um grande número de sessões de treinamento para o pessoal de saúde da linha de frente, tanto em hospitais bem equipados em lugares ricos quanto em instalações muito básicas. Nós os apoiamos com prevenção e controle de infecção e desinfecção, pessoal, triagem e fluxo de pacientes.

Cuidamos de pacientes: os casos mais leves, os gravemente doentes e os que estão morrendo. Em alguns lugares, apoiamos enfermarias de terapia intensiva, em outros, as administramos. Distribuímos máscaras e ensinamos as pessoas a adotar medidas preventivas simples para se manterem seguras, como manter o distanciamento e lavar as mãos. Alcançamos milhões de pessoas com essas mensagens nas redes sociais. E oferecemos muitas, muitas sessões de saúde mental, principalmente para profissionais que estão no combate à pandemia.

Tendo trabalhado na linha de frente de epidemias, sabemos em primeira mão como esse trabalho pode ser exigente, cansativo e estressante. Muitos dos profissionais de saúde que trabalharam tão incansavelmente no último ano tinham pouca ou nenhuma experiência anterior com surtos de doenças infecciosas. Nenhum tinha experiência com a COVID-19. Diante de uma doença nova e desconhecida, sem ferramentas para tratar os pacientes, com medo de ser infectado no trabalho e transmitir a infecção para entes queridos em casa, essa pandemia tem sido um enorme fardo emocional para a equipe de saúde da linha de frente. Devemos cuidar das pessoas que cuidam de nós.

Um ano após sua declaração oficial, a pandemia não recuou. Agora existem vacinas seguras e eficazes, mas para a grande maioria das pessoas elas ainda não estão disponíveis – e podem não estar por muito tempo. Muitas vezes, as pessoas deixadas para trás quando se trata de medidas preventivas e de acesso a cuidados de saúde são as mesmas pessoas que caem novamente nas lacunas de vacinação. Dedicada a ajudar os mais vulneráveis, o papel de MSF nessa pandemia ainda não acabou.

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