Equipes da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) começam imunização no final da semana passada na região Nordeste do Estado. Ação, que vai durar 10 dias, beneficia todos os 5.252 adultos que vivem nos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás
Comemoração e esperança marcaram os primeiros dias de vacinação contra a Covid-19, em comunidades Kalunga da região Nordeste do Estado, considerado o maior quilombo remanescente do Brasil. O Governo de Goiás, por meio da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), começou no sábado (06/03) a imunização em Cavalcante, que abriga 80% desta população. Em seguida a aplicação segue por Monte Alegre e Teresina de Goiás. Serão imunizados todos os 5.252 nativos dos três municípios. A previsão é de que a ação ocorra até dia 15 de março, na aplicação da primeira dose.
O envio das vacinas foi anunciado pelo governador Ronaldo Caiado no dia 4 de março. Em publicação nas redes sociais, ele definiu a operação como um momento de grande emoção. “Esse povo carrega séculos e séculos de história na pele. São pessoas que preservam sua cultura como quem cuida do bem mais precioso. Eu fiz o compromisso de cuidar de cada um dos 7,2 milhões de goianos, sobretudo dos mais vulneráveis”, afirmou.
A primeira parada foi na comunidade Vão do Moleque. O senhor Joaquim Moreira, de 77 anos, estava na expectativa. “Me dá logo! (sic). Na minha idade já estou na hora de morrer, mas não quero. Por isso, vou tomar a vacina. E não tem problema se doer. Não é maior do que a morte. O importante é ficar vivo”, destaca. O idoso Francisco Fernandes do Santos, 70 anos, pai de um dos agentes de saúde da região, comemorou a sua primeira dose e a do seu pai, que tem 100 anos. “A gente fica muito feliz quando vem uma coisa assim (a imunização)”, pontuou.
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A jovem Talita Aquino, de 22 anos, ressaltou a esperança com a chegada das primeiras doses. “Estou muito feliz por minha comunidade estar vacinando”, afirma. Para ela, o fato de estarem isolados e sem muitos recursos dificulta o socorro de qualquer paciente. “Para nós, hoje, é uma sensação de vida nova, recomeço, gratidão por tudo. Quero agradecer ao governador Ronaldo Caiado, à primeira-dama (Gracinha Caiado), ao prefeito (de Cavalcante, Vilmar Kalunga) e também aos agentes de saúde”, disse.
As comunidades representam uma parcela significativa da população local e, com a imunização, haverá a redução dos riscos, além de ampliar ações de prevenção. A destinação das doses aos Kalunga foi possível porque o Estado entrou na cota do Fundo Estratégico de Vacinação contra a Covid-19, do Ministério da Saúde, e recebeu doses extras devido ao cenário de emergência.
Somente pessoas acima de 18 anos são vacinadas. Conforme a coordenadora da Gerência de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis da SES, Luciene Siqueira Tavares, “a imunização é exclusiva para os residentes dentro das comunidades, já cadastrados por agentes de saúde e pelas associações dos quilombos”, explicou.
Os profissionais das SES-GO, enviados à região, estão divididos em duas equipes. A primeira começou a vacinação na comunidade Kalunga que reside no Vão de Almas e Vão do Moleque. Já a segunda segue para os Quilombos Capela, São Domingos, Engenho II, Morros e Prata. Eles são responsáveis pelo traslado, armazenamento, logística e aplicação das vacinas. As doses estão distribuídas conforme demanda de cada comunidade: 2.610 para Cavalcante, 1.900 para Monte Alegre e 742 para Teresina de Goiás. A operação é coordenada pela Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa), que conta com quatro enfermeiros, um fiscal da Vigilância Sanitária e dois motoristas.
“São profissionais com experiência, porque já fizeram outras ações de vacinação nas comunidades Kalunga e em povos indígenas. Eles já têm toda a expertise para esse tipo de trabalho na região”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim. Além disso, a imunização será feita em parceria. A Secretaria Municipal de Saúde de Cavalcante disponibilizou profissionais de enfermagem, técnicos de enfermagem, agentes comunitários e motorista para auxiliar no trabalho da SES.
O prefeito de Cavalcante, Vilmar Kalunga, considerou o início da vacinação uma vitória. “É o resultado de uma luta, de um reconhecimento também. Significa esperança para um povo”, afirmou ao ressaltar que só em Cavalcante, no Vão do Moleque, existem mais de 400 famílias atrás de serras e isolados. O gestor ainda exaltou as parcerias para a ação. “Vale a pena trabalhar unido: governo estadual, municipal e associação. O resultado sempre aparece. Estamos muito felizes por esse momento tão importante”, declarou.
Paralela à imunização, a Secretaria Estadual de Saúde também faz uma investigação e testagem rápida nas comunidades quilombolas. Foram destinados mil testes do tipo IGG e IGM, padrão ouro, que estão sendo aplicados na região. Quem estiver contaminado com a covid-19 terá que esperar pelo menos 30 dias após o fim dos sintomas para vacinar.
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Logística
Um dos maiores desafios da imunização na região é a mobilidade. Isso porque algumas comunidades vivem isoladas e em locais de difícil acesso. Em meio ao período chuvoso, o nível dos rios também vira empecilho, já que em alguns casos os veículos não conseguem atravessar. Por esses motivos, os profissionais da saúde, que integram a missão, já saíram de Goiânia com itens essenciais na bagagem, como alimentos de fácil armazenamento, para consumo durante os trajetos e até barracas. Em alguns trechos da rota é necessário montar acampamento para pernoitar.
As doses destinadas às comunidades Kalunga são da CoronaVac, fabricada pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. O imunizante precisa ser armazenado entre 2º e 8º C para ter eficácia garantida. Aqui, entra mais uma estratégia da força-tarefa: o roteiro da viagem. “Foi levada a quantidade de doses suficientes para cada destino. As vacinas ficam em uma caixa térmica, com termômetro. A equipe também leva uma caixa lacrada de gelox (gelo reutilizável)”, detalha Flúvia.
Campanha
Até o momento, Goiás já recebeu seis remessas de imunizantes, que totalizam 514.480 doses. São 395.480 da CoronaVac e 119.000 da AstraZeneca. A campanha começou em 18 de janeiro com 183 mil unidades produzidas no Instituto Butantan. O governador Ronaldo Caiado, que é médico, deu início à vacinação e aplicou a primeira dose no Estado à Maria Conceição da Silva, de 73 anos, moradora de um abrigo em Anápolis.
Inicialmente, foram vacinados idosos e pessoas com deficiência que vivem em instituições de longa permanência, população indígena aldeada e trabalhadores de saúde na linha de frente do combate à Covid-19. Posteriormente, a imunização foi expandida para as pessoas com idade acima de 85 anos, e, agora, evolui gradativamente por redução de faixa etária.
Até este domingo (07/03), conforme dados preliminares da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), foram aplicadas 242.473 doses da vacina contra a Covid-19 em todo o Estado, referentes à primeira imunização. Em relação à segunda aplicação, foram vacinadas 58.593 pessoas.