Em duas semanas, média de enterros e cremações por dia aumentou de 196 para 221; setor funerário vê algumas cidades estão ‘perto do limite’
Luiz Carlos Pavão
A média de enterros e cremações nos cemitérios da cidade de São Paulo na última semana, de 221 por dia, cresceu 11% na comparação com os da semana de 11 a 17 de fevereiro (196), segundo o Serviço Funerário. Representantes do setor funerário dizem que não veem uma explosão de óbitos na capital paulista, mas apontam que há redes em outros municípios “perto do colapso” diante da crescente demanda. Além disso, a entidade que representa empresas funerárias afirma que há risco de faltarem caixões, por causa da alta de sepultamentos e da falta de matéria-prima, como MDA e aço.
Coveiros trabalham no cemitério Vila Formosa, em São Paulo 02/04/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters
A Prefeitura diz que os números estão na média: entre 240 no verão e 300 no inverno. Em relação à semana de 18 a 24 de fevereiro, também houve alta, de 9,5%, (média diária de 200). O Complexo da Vila Formosa, zona norte, foi o cemitério público que mais realizou sepultamentos na cidade, seguido do São Luiz, Vila Nova Cachoeirinha, Dom Bosco e São Pedro. Os cinco registraram, juntos, uma média de 91 sepultamentos diários nos meses de janeiro e fevereiro. O Brasil tem batido recordes diários de mortes pela covid-19, com média de 1.361 vítimas.
Custos para produzir urnas funerárias aumentou, diz associação
Presidente da Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), Lourival Panhozzi diz que a situação é preocupante “como em nenhum outro momento estivemos na pandemia” e que o setor funerário, em algumas localidades, “estão próximo de um limite”. De acordo com ele, o setor funerário está sentindo “aumento real no número de óbitos absolutos”, ou seja, a soma de todas as mortes somadas, não apenas pela covid-19.
Ele diz que as funerárias, em regra, são estruturadas para atender até três vezes a demanda média mensal, “pois não podem atender apenas a média diária do local em que se localiza, há dias com menos e há dias com mais mortes. Não é de forma igualitária, por isso temos capacidade de remanejar e de estruturar o atendimento que está suportando.” Mas Panhozi ressalta que isso vale para períodos de atendimento comum, não para a demanda que está havendo agora por causa da pandemia.
“Minha preocupação não é a capacidade das indústrias de produzirem urnas suficientes, o que já foi uma preocupação anteriormente. Um problema grave é que está faltando matéria-prima para as indústrias produzirem. Estão tendo dificuldade em encontrar material até para fazer urnas”, relata Panhozi.
Segundo ele, quase a totalidade das indústrias já não estão conseguindo produzir todos os modelos do catálogo. “Isso sem contar que houve aumento expressivo nos custos dessas indústrias para a produção, que repassam ao setor funerário, que por sua vez, não conseguem repassar para a sociedade, já que o serviço funerário é regido por contratos, onde os valores e reajustes são regulamentados”, afirma o presidente da associação.
Segundo Panhozzi, há várias cidades com crescimento muito alto, como Jaú e Bauru, mas a demanda é volátil. “E graças a essa volatilidade estamos tendo fôlego, pois há colaboração na rede entre os fabricantes e dos funerários para a distribuição de urnas nos locais que mais têm demanda. Agora, se esse quadro for agravado e houver demanda elevada em todas as cidades, aí não tem vai ter jeito, vai ficar muito ruim.”
Em relação à covid-19, as cidades que mais tiveram crescimento de mortes nos últimos setes dias no Estado de São Paulo, conforme a ferramenta SP-Covid-19 Info Tracker, plataforma criada por pesquisadores da USP e da Unesp foram: Dracena 21,88%, Araraquara, 16,67% e Cajamar, 15,58%.
A cooperação entre a rede de funerárias ajuda a suportar a alta demanda, porém reforça a preocupação com a falta de matéria-prima informada pelos fabricantes de caixões. “Esses números estão próximo de um limite, e nós ainda não o alcançamos porque temos uma estrutura, um estoque, em regra o setor está conseguindo ainda operar, mas a escassez de material que começa a ocorrer no nosso segmento nos preocupa, porque de nada adianta a gente ter capacidade de atender e as fábricas terem capacidade de produzir se elas não encontram matéria-prima.”