Por Renato Violi, jornalista e nutricionista em formação
Desde o início da semana, quando o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) recebeu as primeiras denúncias, o órgão já aguardava a lista com os nomes dos vacinados para fazer a conferência e checar as informações. Para o espanto do promotor, que conhece boa parte dos moradores da cidade, muitos dos nomes que apareceram no registro não deveriam ter recebido o imunizante.
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A ex-primeira dama da cidade Maritônia Carvalho Leão foi a 623ª pessoa vacinada. Ela é esposa do ex-prefeito de Ceres, o empresário Cícero da Silva Leão, que é dono do Laboratório Biocentro. Nas redes sociais, ela sinalizou ser professora universitária. Na lista, foi cadastrada como auxiliar de coleta, função que segundo o MP não é exercida dentro do laboratório. Já o nome do ex-prefeito não aparece na lista.
Os pais de dois médicos também foram incluídos na campanha de vacinação, sem que tenham qualquer atuação na linha de frente de combate ao coronavírus. Ronaldo Ferreira Rêgo é funcionário do DETRAN-GO, mas foi cadastrado como parte da administração do Hospital Bom Jesus. A mulher dele, Diva Moreira Rêgo que é professora, foi cadastrada como funcionária do setor de faturamento. Eles são pais do médico Rafael Moreira Rêgo, que é sócio do hospital.
Levi José Laignier e Edilce Maria Laignier, pais do médico Victor Hugo Laignier foram cadastrados como auxiliar de serviços gerais no Hospital Bom Jesus, o qual Victor é cadastrado como sócio. No entanto, também não exercem essa função no hospital.
Pela apuração feita pelo MP-GO, até o momento, das 876 doses do imunizante que chegaram a Ceres, apenas a metade foi aplicada conforme orientação do Ministério da Saúde. O restante deveria ter sido aplicado no grupo de risco, que inclui idosos com idade igual ou superior à 85 anos e que não foram contempladas neste primeiro lote. Na Vila dos Vicentinos foram imunizados 23 idosos, além de todos os colaboradores.
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Para o promotor que investiga o caso ficou claro que os “fura fila” da campanha de imunização cometeram crime. Por isso vai oferecer a denúncia na justiça pelo crime de peculato, que tem previsão no artigo 312 e por corrupção ativa, prevista no artigo 333 do Código Penal Brasileiro. “Esses espertalhões aí que falsificaram sua condição, vou propor uma ação criminal muito elevada, com a chance de 90% deles serem condenados que paguem um depósito de R$ 50 mil”, pontua o promotor Marcos Alberto Rios.
Os crimes previstos somam penas que variam entre 2 e 12 anos de prisão em regime fechado. “Não vai sair barato pra essa gente não. E quem disser que não pode pagar, vai passar um tempo na cadeia, porque cometeu um crime repugnante”, reforça Rios.
Exemplo de política e cidadania
No dia 10 de fevereiro de 2021 o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB), que completou 87 anos, recebeu a primeira dose da vacina. Ele esperou na fila para receber o imunizante que foi aplicado numa das salas de vacinação montada na capital especialmente para a campanha de vacinação contra a Covid-19. Acompanhado do governador do estado, Ronaldo Caiado (DEM), e do atual prefeito da capital, Rogério Cruz (Republicanos), o Emedebista mostrou gratidão. “Sem dúvidas, é um momento de emoção, um passo fundamental neste enfrentamento à pandemia. Meu sentimento de gratidão aos profissionais da saúde, que trabalham dia e noite no enfrentamento desta pandemia de Covid-19. Minha gratidão aos cientistas, que têm garantido tantos avanços para nossa sociedade”, disse Iris.
Exemplo que deve ser seguido, para que todos tenham a chance de receber a imunização, de acordo com o calendário e prioridades estabelecidos pelas autoridades sanitárias. “Eu também sou [sou de idade] promotor, passo o dia todo em contato com pessoas em meu gabinete, especialmente pessoas doentes que vem aqui reclamar que não tem remédios, não tem internação, exames… Eu também não fui vacinado, vou assim como Iris Rezende ex-prefeito [de Goiânia] esperar a minha vez também. Não vou usar da minha posição para passar a perna nos outros. É por isso que é tão reprovável a conduta dessas pessoas aí, a população está revoltada”, conclui Rios.